Pra hoje, tem Gregório

(Não) Diário: dia oito


Pra hoje, tem Gregório - por Adriana Bernardes

A primeira vez que li Gregório de Matos Guerra fiquei escandalizada com seu escárnio! Cursava o ensino médio  e matutei por meses a fio como ele, o "Boca do Inferno", assumia-se  pecador e tinha a coragem de dizer a Cristo que Ele, como bom pastor, deveria perdoá-lo e, assim, resgatar a ovelha perdida?

Desliguei-me da poesia há alguns anos. Percorri outros estilos literários. Agora, quando o mundo vive essa pandemia de Covid-19, o desejo por poesia tem percorrido minhas veias. Já busquei por Florbela Espanca, Drummond, Quintana, Clarice, Cora, Neruda... 

Voltando às linhas iniciais deste texto, o "Boca do Inferno", como ficou conhecido Gregório de Matos, foi, durante anos a fio, um dos meus poetas favoritos. Hoje, presto-lhe homenagem publicando um de seus poemas. O texto não poderia ser mais atual.

À despedida do mau governo que fez o governador da Bahia

Senhor Antão de Sousa de Menezes,
Quem sobe ao alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

A fortunilha, autora de entremezes
Transpõe em burro o herói, que indigno cresce:
Desanda a roda, e logo homem parece,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.

Homem sei eu que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.

Pois vá descendo do alto onde jazia,
Verá quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.

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