O meu pé de laranja lima

Diário: dia dez 

O meu pé de laranja lima - por Adriana Bernardes 


Por uma série de motivos, os livros entraram na minha vida quando eu já tinha uns 10 anos. O primeiro deles foi O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos. Perdi a conta das vezes que interrompi a leitura porque chorava tanto, mas tanto, que a vista ficava turva. 

A capa do exemplar guardado comigo até hoje tem um menino sentando em nuvens azuis e lilazes, daquelas que precedem grandes tempestades; estrelas brancas salpicadas aqui e ali; e ele, debaixo de Minguinho, o seu pé de laranja lima. Como é linda essa capa! E como ela diz tanto da obra. 

Vencidas as primeiras páginas – sim, achei difícil o ingresso no mundo da leitura –, passar o olho demoradamente na capa era um ritual. Quando o livro estava quase no fim, passei a economizar a leitura. Lia meia página por dia. Às vezes, uma inteira, em seguida, pulava um dia. Até que acabou. Aí, comecei a ler tudo de novo até, a última página. Ali descobri a magia dos livros.

***Se não quer spoiler, pare por aqui e pule para o último parágrafo***

A vida triste de Zezé me cortava o coração. Sorte dele ter a Glória, pensava eu, um anjo sempre em seu socorro. E o amigo Portuga? Me debulhei em lágrimas com sua morte. Chorei a ponto de soluçar. Isso não coube no meu coração de menina de 10 anos. Transbordou... e muito!

Temi pela vida de Zezé quando ele adoeceu de tristeza pela morte do amigo Portuga e porque seu pai decidira cortar o seu pé de laranja lima. Era como se eu pudesse sentir o calor do seu corpo febril e o pano úmido que Glória colocava sobre sua testa para a febre ceder.

Até hoje, guardo na memória a imagem do seu quarto cristalizada na minha imaginação: apertado, pouca luz (nunca gostei de pouca luz), nenhum brinquedo, nenhuma cor além de um branco encardido iluminado pela luz do sol quando a janela estava aberta. 

Tão marcante quanto O meu pé de laranja lima, tem Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez, e a coletânea As brumas de avalon, de Marion Zimmer Bradley. Mas essa é uma outra história.

P.S.: Em O meu pé de laranja lima, Jayme Cortez é o ilustrador e Rui de Oliveira assina a capa.


Se puder, #FiqueEmCasa. Já, já tudo passa! Tudo passa.




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