O amor nos tempos de coronavírus

Diário: dia um

O amor nos tempos de coronavírus - por Adriana Bernardes

Brasília, 19 de março de 2020. São 14h15 de uma quinta-feira e estou na redação do jornal. Metade da equipe trabalha de casa e a outra por aqui. As cortinas estão recolhidas, o ar desligado, e todas as janelas abertas. Mesmo assim, o calor é insuportável até mesmo para mim, que normalmente sou friorenta. 

Da imensa janela em frente a qual estou sentada, avisto a Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig), uma das mais movimentadas nessa região. O fluxo de veículos está consideravelmente menor.  O céu oscila entre o azul intenso, nuvens cinzas, depois esbranquiçadas, para, logo depois, mudarem de cor novamente. Agora mesmo, começa um chuvisco e sobe aquele cheirinho de terra molhada. O mormaço aumenta. 

Assim também tem sido a atualização do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus (Covid-19) no Distrito Federal. Hoje, o número de casos foi atualizado para 42 e, em menos de 15 minutos, já eram 61. A quantidade de pessoas com suspeita da doença é muito maior. 

Desde que Brasília notificou os primeiros casos, tem sido assim. Uma novidade atrás da outra. Por aqui o governo local agiu rápido. Há oito dias, suspendeu as aulas das escolas públicas e privadas. Depois, fechou salas de cinemas, obrigou bares e restaurantes a manterem as mesas afastadas dois metros uma da outra e, por fim, na tarde de hoje, determinou que apenas farmácias, supermercados e padarias fiquem abertos. Mas este post não é para falar sobre isso. É para falar sobre o amor. 

Amor 

Ah, o amor! O amor nos salva. O amor por nós mesmos e pelo próximo. Há quatro dias eu ainda beijava meus filhos, marido, abraçava-os sempre que tinha vontade. Mas após uma entrevista com o então secretário de Saúde (ele foi demitido do cargo no mesmo dia da entrevista), comecei a evitar esse tipo de demonstração de afeto. E como tem doído!

Ao chegar em casa do trabalho, no comecinho da noite de segunda-feira (16/3), abri a porta e minha filha veio correndo, braços abertos e o conhecido grito "mamãaaaaaaeeeeeee.....". Comecei a me afastar e a dizer "não" repetidas vezes, aumentando o tom de voz para impedir que ela me abraçasse. Ver o sorriso desaparecer do seu rosto, os braços se abaixando devagar e o silêncio que se fez me destroçou. O mais novo, vendo a cena, nem se arriscou. O pai, ficou de longe, olhando. 

Tomei um banho da cabeça aos pés. E, só depois, os chamei para explicar. Um vídeo com a Turma da Mônica cantando os motivos pelos quais devemos evitar beijos e abraços neste período me ajudou a fazê-los entender. Virou hino, em casa. Enquanto isso, tenho pensado em formas alternativas de demonstrar afeto. Os beijos no ar ganharam cores. Da cor que eles quiserem. Ela, pede sempre o rosa, o lilás, alguns com glitter. Ele, preto, marrom, azul e verde.  

Inspirada num meme que circula nas redes, tocamos os pés com pés e damos risada. Mas quando o peito aperta muito, nos abraçamos e ficamos quietinhos em silêncio, sentido o calor do corpo um do outro, o cheirinho, a delicadeza da pele. O amor no tempo de coronavírus faz isso com a gente. 

Comentários

  1. Maravilhoso, Adriana! Vamos lá. Devagar conseguiremos superar essa fase. Que coisa absurda ... Merecemos viver e sermos melhores! Seremos!

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    1. Obrigada, Cintia! Desse momento, espero que mais pontos de luz se acendam. Precisamos de luz. Muita luz para todos! Força e coragem pra cada um de nós!

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  2. Caíram lágrimas aqui , os últimos dias foram bem difíceis, mas vamos seguindo.
    Adorei Adriana 🌸

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    1. Que bom que gostou, Cândida! Em alguns momentos o peito aperta. Mas tudo isso vai passar em breve. Abraço!

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  3. São fortes emoções, mas bom ou não, isso também vai passar!

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