Ei, vamos discutir a relação?

 Oi, sei que precisamos conversar. Estou em completo silêncio há exatos 67 dias. Incomoda a ti e também a mim. O motivo é muito simples: desde aquele dia em que nos encontramos, emudeci. Simples assim. Precisamos discutir a nossa relação!

Por Adriana Bernardes

Cada vez que sua presença se faz presente de forma tão afetuosa, transbordo;  ganho o dia; suspiro; flutuo. Muitas das manifestações de carinho e gratidão chegam de forma anônima nos comentários (não me pergunte o porquê, clica aqui e vai entender) e talvez eu jamais saiba quem é a pessoa que dedicou parte do tempo para Reboar comigo e compartilhar sensações e sentimentos. 

Mas não é sobre isso que precisamos conversar. É sobre outra coisa. É sobre a minha ausência. Mas antes, posso te perguntar uma coisa? Quantas vezes você já sorriu sem querer? Quantas vezes levantou da cama quando, o que mais queria, era ficar debaixo do edredom, num encontro afetivo, prazeroso e sereno com você mesmo (não necessariamente tocando o próprio corpo, sentindo cada arrepio, cada espasmo até o orgasmo)? 

Quantas vezes você quis mandar alguém pro pior lugar do mundo e se calou? Quantas vezes quis ficar no meio da rua contando estrelas, mas seguiu dentro do carro com medo da violência? Quantas vezes viu a chuva da vidraça da janela quando, na verdade, queria dançar encharcada até cair exausta na grama de braços abertos? 

Quantas vezes reprimiu o desejo por conta de valores cristãos, machistas, patriarcais? Quantas vezes, quantas vezes, quantas vezes tantas coisas deixaram de ser feitas e ditas por você? Comigo também é assim! 

Mas aqui, no Reboar, me permito pousar somente quando estou plena para reboar com cada um que clica na página. Para quem tem o desejo de que as palavras aqui depositadas ecoem pelo universo e, de alguma forma, toque as pessoas, é uma baita contradição. 

Afinal, nas redes, há que se ter oferta de conteúdo diária; postar neste e não naquele horário, conhecer meu público e saber o que ele quer ler. É o que dizem. Mas aqui, no meu Reboar, só há espaço para reboar. Se ele vai ecoar por aí como pena de passarinho ao vento, isso é outra história! 

*Este poste é dedicado à todes que mandaram mensagens para saber o porquê do meu sumiço. Vocês são incríveis. 

** Vocês devem ter percebido que a foto não tem muita relação com o texto. Mas eu precisava contar que, enfim, consegui pintar meus cabelos de azul. Sigo pintando as paredes do banheiro e as fronhas do travesseiro. Mas agora, estão azuis! 

(Não) Diário de uma pandemia, 9 de fevereiro de 2022. 

BEM-VINDO, 2022!