Transbordos
Tenho transbordado muito ultimamente. Em casa, na terapia, no trabalho.
São transbordos de lágrimas; de lágrimas entre risos;
de saudade do que foi; daquela que virá.
Por Adriana Bernardes
Transbordos de palavras; de confidências e inconfidências;
de silêncios; de música; de olhar vazio para além da janela;
de chuvisco e tempestade.
Nos meus transbordos, revelo de mim o queria só pra mim;
sou acolhida no abraço de uma desconhecida no banheiro feminino
(“jeito esquisito de conhecer alguém”, digo, e ouço: “é o melhor jeito de conhecer alguém. Qualquer dia a gente toma um café”.);
Nos meus transbordos, eu choro, principalmente. Choro, até cansar. Enquanto choro, calo tudo em volta; dissemino medo. Por que cargas d’água o mundo teme a potência do choro?
O mar salgado que transborda dos meus olhos, traz junto Iemanjá. Suas águas escorrem pelo meu corpo; invadem minha alma; sobem e descem em cada poro; em cada célula que compõem a minha morada terrena.
Meu mar particular mexe e remexe tudo em mim e explode igualzinho os fogos de Copacabana (percebe a força e a beleza desse meu chorar?)!
Saio dos meus transbordos renovada. Me fortaleço acolhendo e vivendo meus transbordos. Sem medo de transbordar quando tudo aqui dentro estiver meio misturado.
Crédito da imagem: Pinterest.
(Não) Diário de uma pandemia.
Brasília, 25 de fevereiro de 2022.
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