História de Eva
Por Adriana Bernardes
Daí, estava eu numa playlist aleatória, quando trombei com uma música incrível!
Eva.
Essa música é uma delícia. Canção protesto, declaração de amor, melodia que, inevitavelmente, me conduz a fechar os olhos, abrir os braços, dançar e cantar bem alto, desafinada, girando, girando, girando e sorrindo….
No auge dela, eu vivia em Honorópolis, no Pontal do Triângulo Mineiro, na casa da dona Wandir, dona da única pensão do vilarejo em que cresci até metade dos meus 8 anos de vida.
A casa principal ou era muito grande para meu tamanho, ou talvez fosse grande de fato. A cozinha enorme! Dalí saia salada de alface e tomate picado em rodelas; de jiló; e carne de vaca ou porco de lata. Eu amava o que se cozinhava ali. O bife acebolado, então….
Na mesma cozinha, uma das filhas de dona Wandir, mulher feita para a minha meninice, mas que não passava de uma adolescente, no máximo entrava nos primeiros anos da juventude, fazia um doce de abacaxi tão lindo quanto saboroso.
Depois cozinhar o abacaxi até ele virar uma pasta, ela o enrolava em bolinhas pequenas, lambrecava elas no açúcar cristal rosinha (não sei com que ingrediente era misturado) e, a mim, cabia colher os galhos da jabuticabeira e separar os que tinham o pedacinho de madeira bem fino com duas folhinhas em cada. Daí, espetávamos nas bolinhas de doce para decorar.
Aquele foi um período desafiador na minha pouca vida. Dona Wandir e o marido me acolheram como a uma filha. Mas meus pais, não estavam ali. E a falta deles me arrancava lágrimas à noite, quando estava sozinha. E espalhava em mim um bocado de tristeza pela distância que nos separava a semana toda. Mas eu sabia que aquele era o único arranjo possível para que eu frequentasse a escola: eles, na roça e eu na cidade.
Por dois anos e pouco, vivemos apartados de segunda a sexta (até o fim do dia). Para na segunda cedinho, nos separarmos de novo. Engoli muito choro no trajeto que separava a minha casa da pensão da dona Wandir ou da casa da dona Alzira, outro anjo que encontramos pelo caminho nessa época.
O choro não revelado, nunca foi resultado de um pedido dos meus pais para engoli-lo ou por bronca que tenham dado. Acho que, sem realizar em palavras ou mesmo formular em pensamentos, eu sabia que o choro não traria a solução. Então, deixava as lágrimas rolarem em silêncio, aliviava a pressão do peito, e seguia.
Voltando à pensão de dona Wandir, e à música Eva, uma tarde entramos em um dos quartos. Aquele lugar era um paraíso! Tinha móveis muito antigos. Caixas e mais caixas de brinquedo. Roupas esquecidas ali por alguma razão. Foi um dos dias mais divertidos de que tenho lembrança.
Não sei o que dona Wandir procurava. Passamos horas ali. O cheiro de poeira e mofo estava em todo lugar. Quando ela encontrou o que procurava, pedi para continuar ali. E passei a tarde todinha brincando, feliz, feliz, feliz da vida!
Lá pro fim do dia, já na hora do banho e janta, ela foi me buscar. Por mim, teria dormido ali. Pedi a ela que me deixasse levar uma das bonecas para a casa principal. Com a promessa de que cuidaria bem e não a perderia, a boneca preferida de uma das filhas, ela permitiu. Ela era grande, tinha cabelos louros e roupas de verdade. Os braços e as pernas eram articulados, bem diferentes das que eu tinha. Foi um dia lindo, aquele.
Também tem a história da uva niagara, a minha preferida na vida até hoje. O moço do caminhão passava sempre perto das 14h. Anunciava no alto falante. As uvas eram vendidas em caixinhas de madeira. Tinha a pequena e a grande. Ela sempre comprava, lavava tudo, colocava na geladeira e dizia: você pode comer. Mas só na hora do lanche ou na sobremesa.
Era o mesmo que não dizer nada! Eu passava o dia visitando a geladeira de forma sorrateira e, na minha inocência, acreditava que ela não percebia que eu passava o dia chupando uva.
E tinha a música Eva, nesta época.
Ainda hoje, com os 48 anos batendo à porta, ainda gosto de bonecas. Ainda gosto de uvas niágara, ainda gosto de cantar e dançar Eva, de olhos fechados, rodopiando e sonhando acordada e dormindo.
Se conseguiu chegar até aqui e quiser ouvir a canção, clique neste link: https://bit.ly/3Iif2w2
Meu amor, olha só, hoje o Sol não apareceu
É o fim da aventura humana na Terra
Meu planeta, adeus
Fugiremos nós dois na arca de Noé
Olha bem, meu amor, é o final da odisseia terrestre
Sou Adão e você será
Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
E voando bem alto (Eva)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me cobre com teu corpo e me dá
A força pra viver
Meu amor, olha só hoje o Sol não apareceu
É o fim da aventura humana na Terra
Meu planeta, adeus
Fugiremos nós dois na arca de Noé
Olha bem, meu amor, é o final da odisseia terrestre
Eu sou Adão e você será
Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
E voando bem alto (Eva)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me cobre com teu corpo e me dá
A força pra viver
E pelo espaço de um instante
Afinal, não há nada mais que o céu azul
Pra gente voar
Sobre o Rio, Beirute ou Madagascar
Toda a Terra reduzida a nada, nada mais
E minha vida é um flash (flash)
De controles, botões antiatômicos
Mas olha bem, meu amor
É o final da odisseia terrestre
Sou Adão e você será
Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
E voando bem alto (Eva)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me cobre com teu corpo e me dá
A força pra viver
Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
Tamanho
E voando bem alto (Eva)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me cobre com teu corpo e me dá
A força pra viver
Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
Parabéns Adriana.Você sempre abrindo horizontes.É notável a lucida memoria abordando uma certa trajetória de sua vida, com simplicidade, beleza e muita energia.Gratidão por partilhar.
ResponderExcluirDona Maria Eutenir, a senhora é sempre muito carinhosa comigo. Gratidão!
ExcluirParabéns Adriana.Você sempre abrindo horizontes.É notável a lucida memoria abordando uma certa trajetória de sua vida, com simplicidade, beleza e muita energia.Gratidão por partilhar. Maria Eutenir Braga
ResponderExcluirObrigada, dona Maria Eutenir! Namastê!!!!
ExcluirCaríssima Adriana. Gratidão e Namastê.
ResponderExcluirNamastê!
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