Chá
Por Adriana Bernardes
Bebo chá como degusto poesias. Sinto o cheiro da erva antes da água. Depois, aspiro o cheiro no vapor. O balé da fumaça no ar faz meus olhos bailarem também.
Seguro a xícara com as duas mãos. Não delicadamente mas com elas espalmadas, abraçando-a por inteira. É para sentir o calor do líquido que logo aquecerá, também, meu estômago (tem coisa melhor que o calor do chá aquecendo o estômago?).
Natal passado, ganhei um trem para fazer chá. Lembra um pote de doce. Mas dentro, tem outro trem (também conhecido como peneira, também em forma de pote) pra botar a erva dentro e fazer a infusão.
Achei que acabava ali a serventia do troço. Que nada! “Também é xícara, sua botinha”, sussurrou o Bom Velhinho quando pensei em comprar uma bela xícara para fazer juz ao meu novo trem de fazer chá.
Três chás depois, finalmente entendi o presente: Erva dentro da peneira; peneira com erva dentro do pote de vidro (que parece de doce); água quente por cima da erva dentro da peneira, dentro do pote de vidro (que parece de doce); tapa.
Espera.
Só mais um cadim.
Tira a tampa e bota ao contrário sobre a mesa. Tira a peneira com a erva e bota sobre a tampa que projeta para reter o líquido que sobra da erva.
(Sim, gente!!!!! A tampa do troço serve de suporte para a peneira com erva dentro!)
Agora, sim, posso tomar o chá.
Enquanto tomo o chá, mãos espalmadas no copo de vidro com duas camadas para reter o calor, o presente se renova em novos presentes. O vapor d’água condensado se transforma em círculos brilhantes. Os círculos brilhantes dão aos olhos a ilusão de brilhantes ou pequenos diamantes circundando as bordas da tampa e do copo.
Boca no copo.
Chá na boca.
Quentinho nas mãos.
Estômago quentinho.
Brilho nos olhos.
Meu momento. Meu chá!
Eu tenho um trem de botá chá, mas é um foguete.
ResponderExcluirUM FOGUETE!!!!!!!! Chocada! Vamos topá pá tomá chá do foguete e prosear a tarde toda trocando papéis de carta!
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