Viver com leveza é preciso, apesar da pandemia


Por Adriana Bernardes


Diário: dia cento e cinquenta e três*. Há exatamente cinco meses eu publicava o primeiro texto neste espaço. O amor nos tempos de coronavírus resumiu o momento em que me dei conta da transformação que esta pandemia promoveria na minha rotina e nos momentos mais intensos com meus filhos e marido. Lembro de como me doeu impedir meus pequenos de me abraçar naquele dia quando cheguei do trabalho.  O isolamento social por aqui passou por fases. 

A primeira, otimista: "Devemos ficar em home office até meados de abril". Abril se aproximava e o cenário só piorando. O calendário não precisou chegar no mês quatro para que entendêssemos que a situação ia piorar. 

Antes mesmo do fim de abril entramos na segunda fase: a angústia, a tristeza e o medo de, mesmo respeitando rigorosamente as normas sanitárias, fôssemos contaminados no mercado, na farmácia ou no consultório médico. 

"Em junho, isso acaba!". Esta foi a terceira fase e o que aconteceu? Os casos de contágio e óbitos continuaram a subir. Em julho, explodiram. E nós quatro, no isolamento social. 

E agora, cá estamos, na segunda quinzena de agosto e com ela, a quarta fase: "O cenário só deve mudar lá pro fim de dezembro, quem sabe meados de fevereiro de 2021". 

Certamente estamos mais próximos de entender o significado dessa tal resiliência. Estamos adaptados à rotina (antes) impensável de trabalhar (muito mais no home office), cuidar da casa e das crianças. Nos encaixamos até mesmo na enlouquecedora educação à distância. Mergulhamos na jardinagem e, recentemente, arriscamos uma horta. Fim de semana plantamos as mudas tomate cereja, alface e rúcula semeadas há cerca de 20 dias. Nascer elas nasceram. Se vão sobreviver, é outra história!


Treta com beija-flores, pardais e bem-te-vis


Conseguimos dar jeito de arranjar treta entre os beija-flores, os pardais e os bem-te-vis quando compramos um apetrecho para dar água aos primeiros. Como poderíamos imaginar que o composto chamado néctar de beija-flor atrairia também as outras aves? Territorialista que são, os beija-flores, vira e mexe, botam os demais pra correr. Eles logo voltam. E nós? Nós desgrudamos os olhos da tela do computador e respiramos com as confusões e o balé das asas deles.

E não para por aí. Nossos 60 metros quadrados agora comportam uma barraca (grande) e uma piscina de plástico (280 litros). Fim de semana passado, entramos os quatro nela e passamos parte da tarde, ele na cerveja, eu no vinho, as crianças no picolé. Sim, molhou a sala toda. A mesa foi deslocada e ficou impossível sair para botar o lixo pra fora. Mas gargalhamos, brincamos, mandamos fotos para os grupos das famílias, alguns amigos e,  quando nos demos conta, passava das 16h30 e não tínhamos almoçado ainda. 


Com a vida se arrastando há cinco meses, uma coisa fica evidente: chegar lá importa. Mas como percorremos o caminho é mais importante ainda. Certamente não tem sido como gostaríamos. Mas é o que tem pra hoje. E hoje, eu vou fazer o possível para ter o melhor dia de todos até agora. E você, o que tem feito para suavizar a sua jornada? Compartilhe comigo nos comentários. 


* Quem está sempre por aqui, sabe que este é um (não) diário. 


Crédito das imagens: Pinterest. 

Comentários

  1. Prima tenho feito muito croche,desenhos com as crianças e o que mais o meu quintal oferecer ! Todos os dias ele me traz bentivis pardais e as bombinhas que fazem os seus ninhos no meu pé de acerola . E a noite.....agente se assenta no escuro para ver o céu.

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    1. Que delícia!!!!! Crochê não dou conta, machuca meus dedos. Mas estou pensando em voltar a fazer ponto cruz. E ver o céu..... ah, é uma das melhores coisas da vida! Cuidem-se, Lu!

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  2. meus parabéns Adriana, vc vez da forma correta, os néctares são idéias e necessários para os beija-flor. Tem gente que coloca açúcar na água para oferecer aos beija-flor, mas faz mal aos passarinhos

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    1. Oie, obrigada! Nos preparamos para recebê-los mais de perto. Só não contávamos com as tretas. beija-flores contra o resto. O resto contra as abelhas-araças. Mas continuam todos por aqui. Um abraço!

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  3. Virei ciclista 🚴🏿‍♀️ 😂💪🏼🚴🏿‍♀️💨 Adoro os seus textos e, claro, você! 😘❤️

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    1. Que delícia, amiga!!!! Minha bike está aposentada. Quem sabe isso muda né? Saudades e se cuidem por aí!

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  4. Nooossa, inspiradora Adriana... impossível não ficar imensamente tocada com a crônica, com os beija-flores, suas asas coloridas e bicos doces. Impossível também não desenhar mentalmente esse cenário de amor e alegria em família em tempo de longa pandemia. Essa foi, com certeza, a sua crônica que mais me encantou... Parabéns pelo texto, criatividade e riqueza de sentimentos!!!

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    1. Que depoimento lindo!!!!! Muito obrigada! Sigamos todos com coragem. Uma hora esse horror passa. O desafio de todos nós é construir, em meio a isso tudo, memórias afetivas de amor e leveza! Que Deus nos dê sabedoria e força para conseguir! Um grande abraço! (Me conte seu nome. Por aqui aparece Unknown)

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