Como é ser mulher em tempos de covid-19?



Por Adriana Bernardes




Como é ser mulher no Distrito Federal em tempos da covid-19? Há quase um mês essa pergunta chegou a mim por mensagem de WhatsApp, enviada pela cineasta e pesquisadora Tânia Fontenelle. Junto com a mensagem, um convite para que eu participasse do projeto, enviando um vídeo com meu depoimento. Ainda não enviei. Ainda não sei a resposta. 

Vou e volto na reflexão. A única certeza é a de que não há, uma sequer entre nós, que não tenha sido afetada pela pandemia mundial do novo coronavírus. Nas minhas reflexões, são muitos os sentimentos...

...Saudade
imensa dos meus pais e irmãos; de sair na rua sem medo de respirar; de fazer planos (concretos) pra a próxima viagem de férias; dos encontros com os amigos; dos abraços e apertos de mãos; de trabalhar da redação do jornal; de malhar (até disso! Entendedores, entenderão); de ir para o clube (e não entrar na piscina gelada e nem esturricar no sol); de ver a sequência de floração dos meus ipês; de comer espetinho na rua; dos parques de Brasília...

...Medo
que os nossos filhos fiquem doentes e tenhamos que levá-los ao hospital; de perder o emprego ou ter salário reduzido; das consequências que o isolamento social prolongado terá sobre o desenvolvimento dos nossos pequenos; de receber as encomedas do mercado, não higienizar corretamente e o vírus circular dentro da nossa casa; de sair para resolver o que só se resolve pessoalmente na rua; de marcar consultas de rotina....



...DESCOBERTAS
também não faltam nesse período de pandemia. De repente, me dei conta de que havia uma Adriana desconhecida habitando em mim. A que se viu escrevendo sobre o cotidiano aqui no meu espaço Reboar; a que se pegou desejando uma filhotinha de labradora mel, cujo nome será Mel (pet em apartamento? Jamais! Eu sempre disse); a que se refugia na mediação; a que acende velas e reza pela humanidade; a que luta para evitar explosões de raiva; a que redescobriu o prazer de desenhar e colorir; a que, pela primeira vez na vida, se arriscou na pintura e se espanta com o resultado da junção de cores "nada a ver": combinações improváveis dão luz, sombra, reflexo e movimento às paisagens. 

Amo orquídeas desde sempre. Mas foi preciso uma quarentena para eu descobrir que algumas delas não têm cheiro algum no auge da floração. Porém, quando estão prestes a encerrar o ciclo de existência, já um pouco murchas e sem o vigor da juventude, exalam um perfume suave para quem se dispõe a apreciá-la na velhice. E que toda vez que rego o vaso de manjericão, ele também perfuma o ambiente em retribuição...

E aí, como tem sido ser mulher no meio de uma pandemia mundial de coronavírus?

*Se você vive no Distrito Federal e quer participar do projeto Mulheres do DF em tempos da Covid-19, da cineasta Tania Fontelele, clica aqui e se informe sobre os detalhes.  


Comentários

  1. Muito bom o texto. Leva -nos a uma profunda reflexão sobre os verdadeiros valores. Eu, de minha parte, descobri, dentre tantas coisas, como foi bom deixar de ser advogada para ser uma artesã anônima em Pirenópolis....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aí, que delícia!!!!!! Amei!!!! Que a plenitude te acompanhe!

      Excluir
  2. Respostas
    1. Bom dia, Nazareno! Não sei se posso dizer que é minha. Comprei um kit: uma tela numerada, tinta e pincéis. Cada detalhe da paisagem tem números impressos. E cada potinho de tinta, também. E você vai pintando seguindo o gráfico.Ainda não terminei o da foto. O próximo passo, será autoral. Uma tela em branco e, nela, o que a alma gritar e eu conseguir reproduzir. Bom dia, e bom domingo!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas