Saudade

É chegada a hora. Como será te abraçar de novo? Coração aos pulos, lágrimas nos olhos e sussurros silenciosos: "Te acalma! Faz de conta que não é contigo".

Quatrocentos e trinta quilômetros, seis horas de viagem sem paradas nem para um "cafezim". Não é seguro, tem a pandemia.

Os carros ficam para trás, as casas ficam para trás. O sol do meio-dia está a pino. Lavoura de soja, terra arada, milharal embonecando, casebres e grandes sedes, Da janela, tem planícies, planaltos, regatos e rios a perder de vista.

E o coração pula. De novo me vejo perdida em teu abraço, no beijo que vou dar e receber, em como será olhar em teus olhos de novo. Novo sussurro silencioso: "Vai ter choro, muito choro quanto botar os olhos em ti".

O relógio marca dezesseis. Faltam 30 minutos. Só 30 minutos depois de uma ausência de mais de 300 dias. O Amarelinho, misto de boteco e distribuidora de bebidas, está de cara nova. A verdurinha também remoçou. Já a padaria, essa fechou. As árvores do canteiro cresceram. E como cresceram. O  vizinho reformou o muro e trocou o portão. 

Pronto, chegamos! 

Dedo na campainha. O portão desliza sobre o trilho e, enfim, meus olhos encontram os seus. Não teve choro, não teve abraço. Na pandemia, não é seguro (Não foi assim que imaginei dezenas e mais dezenas de vezes). Desce mala, borrifa álcool, banho da cabeça aos pés. Uma hora mais tarde, o tão esperado abraço e beijos na bochecha. Não teve choro enquanto estava em teus braços (não foi assim que imaginei dezenas e mais dezenas de vezes).

Seguimos pondo a conversa em dia, preparamos o jantar. O choro abafado no peito, ficou em suspensão como poeira no ar! Demorou mais de 12 horas para correr como rio de tempestade. Lavou olhos e corações. Limpou a tristeza da ausência forçada. Nos fez respirar de novo. Matou a saudade e  recarregou as esperanças para superar mais uma temporada distante!

Crédito da imagem: Pinterest

Para os meus pais, irmãos, sobrinhos, cunhadas, cunhados e sogra.

(Não) Diário de uma pandemia.