A ausência de silêncio em mim
Por Adriana Bernardes
Brasília, 31 de maio de 2020. Querido (não) diário, preciso desabafar. É noite de domingo e não estou conseguindo lidar com o barulho que habita em mim. Deitada na cama, acabei de ouvir as batidas do meu coração. Prendi a respiração, congelei os movimentos e fiquei duplamente surpresa. Eu não só ouvia as batidas, como sentia o meu corpo vibrar no compasso do tum tum; tum tum; tum tum...
Ensimesmei ainda mais e ... buuu! Um novo ruído se apresentou. Além do tum tum e do trepidar do corpo, passei a ouvir o barulho do ar entrando e saindo devagar das minhas narinas. Prossegui naquele mergulho inédito e senti o ir e vir apressado do sangue jorrando dentro dos vasos. Aí, foi demais pra mim, meu querido (não) diário!
Cogitei estar endoidecendo (pode falar, você também esta pensando exatamente a mesma coisa, não é?). Remexi o corpo, sacudi a cabeça, arregalei os olhos e agitei os pensamentos. Ufa! Enfim, espantei a ausência de silêncio que habita em mim. Mas não totalmente. E agora, sabendo da existência dela, pressinto que a terei sempre por perto. O jeito será compreendê-la e torná-la confortável.
P.S.: Querido (não) diário, me custou muito vir fazer esta confissão. Por favor, não espalhe essa história por aí.
(Não) Diário dia: vinte e tantos.
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