Água fresca para as flores

Dia desses fui ao cemitério me despedir de um amigo que partiu precocemente. Nunca estive à vontade em cemitérios. Na verdade, desconheço quem caminhe com algum conforto sobre a terra onde os vivos depositam os mortos. Mas desta vez, foi diferente. 

Meus olhos percorreram o campo santo atiçados pelo desejo de conhecer a história por trás das fotos, das frases escritas nas lápides, das covas bem cuidadas e das outras, com ar de abandono. Desta vez foi diferente porque estava inebriada pela arte, pela força da escrita de Valérie Perrin em Água fresca para as flores


Por Adriana Bernardes

Valérie, por meio de  Violette Toussaint e Sasha, os cuidadores do cemitério; dos coveiros Nono, Gaston e Elvis; e dos irmãos Lucchini, da funerária; desconstrói o senso comum de que a morada física dos que se despedem da vida é um lugar triste, sombrio, dominado por um silêncio sepulcral. Um enredo costurado por tragédias, amores, paixões e a teimosia da personagem principal em ser feliz. 

No cemitério de Violette a vida pulsa o tempo todo. No cultivo da horta, ao redor da mesa, debaixo da pérgola, nos desabafos dos vivos entre uma xícara de chá ou uma bebida forte. Viollet, abandonada ao nascer, tem dois armários: um de inverno e um de verão. “...Uso o verão sob o inverno e tiro o inverno quando estou sozinha.”

Na viagem pelas 479 páginas de Água fresca para as flores fiz muitas pausas instigada pela forma como Valérie organiza as palavras. Pausas para rir, para chorar, para imaginar o que a teria inspirado a escrever algo de um jeito e não do outro. 


“Uso o verão sob o inverno e tiro o inverno quando estou sozinha.” (sobre o seu guarda-roupas)

“Dá pra ver que está irritado com o barbeador, mas não perdeu a elegância”

“Não sei se você está em mim ou se estou em você, ou se você me pertence. Acho que nós dois estamos dentro de outro ser que criamos e que chamamos de nós.”

“A não ser pelo cabelo, que aponta para todos os lados, não há nada de fantasioso nele. Ele parece tão triste quanto as roupas que usa.”

“Você sempre vai ser todos os meus amores. O primeiro, o segundo, o décimo e o último.”


Em tempos sombrios como os que vivemos, a escrita de Valérie é um refresco para qualquer pessoa que tenha a sorte ou escolha ter seu livro entre as mãos. 



Serviço 

Título: Água fresca para as flores, Valérie Perrin. Editora: Intríseca. Onde comprar? Amazon: R$ 43,60 capa simples ou R$ 46,90 Kindle (valores informados na data desta postagem).






(Não) Diário de uma pandemia

Comentários

  1. Adriana é vida, e sabida mulher da vida e quão dinâmicas são as suas sensíveis interpretações , e até citando nomes de pessoas como sua amiga, autora do livro, Água fresca para as flores, Valérie Perrin. Sou sua admiradora, Maria Eutenir Braga

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    1. Oi, dona Maria Eutenir, que prazer tê-la aqui. Obrigada pelo carinho. Um grande abraço. Namastê!

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