Diálogos de saudade e tédio

 

-Oi cara de cutia, tudo bem aí?

-Oi, fiotinha, tá. E aí?

-Bão também. 

-Que que ocês tão fazendo?

-Nada. Lavamo o quintal, tá um poeirão que só vendo! A casa num pára limpa. Fiz máscara, seu pai fez almoço, agora tamo aqui, sentado no portão, vendo o movimento. 

-Que beleza! Pausa

-E ocêos, fazendo o que?

-Nada, mãe. Fomo alí na área verde com as criança, pra eles corrê, um pouco, subi em árvore...Tomamu um lanchinho lá na sombra e, agora, tamo em casa. Os menino, no banho. Rafael fazendo comida e eu aqui, com uma preguiça danada! Mãe do céu, que secura! De noite acordei com o nariz ardendo e a garganta seca. E o calorão? Afe! Deixa a gente até mole.

-Aqui também, menina….

-Oi fia, cê tá boa? O pai grita de lá, botando a cara de frente pra tela.

-Oi pai, tô boa e ocê?

-Uai, minha fia, bão, bão num tá, né? Coração tá ó, apertado de saudade. Quando é que ocês vem? Esse fim de semana?

-Ai, pai, cê não sabe o tanto que eu queria... Mas essa pandemia não deixa.

Por Adriana Bernardes

(Não) Diário de uma pandemia

Brasília, 4/10/2021.